A economia brasileira apresentou um cenário de fortes contrastes em seus principais setores produtivos. Enquanto a indústria de petróleo e gás celebra números sem precedentes, impulsionada pela exploração no pré-sal, um dos pilares do agronegócio, a citricultura, enfrenta uma de suas piores crises, com a colheita de laranja registrando o menor volume em mais de três décadas.
Produção de Petróleo e Gás Atinge Marcas Históricas em Julho
O setor de energia do Brasil demonstrou um vigor excepcional em julho, conforme dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A produção total de petróleo e gás do país alcançou um recorde histórico, ultrapassando pela primeira vez a marca de 5 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), totalizando 5,2 milhões de boe/d.
A extração de petróleo chegou a aproximadamente 4,0 milhões de barris por dia (bbl/d), um aumento de 5% em relação a junho e um salto impressionante de 23% em comparação com julho de 2024. A produção de gás natural também atingiu um novo pico de 190,9 milhões de metros cúbicos por dia (m3/d), representando um crescimento de 5% sobre o mês anterior e de 26% no comparativo anual.
Pré-Sal Consolida-se Como Motor do Crescimento
O grande impulsionador desses resultados foi, mais uma vez, a camada pré-sal. A produção na região bateu um novo recorde, alcançando 4,1 milhões de boe/d, o que corresponde a um aumento de 6% em relação ao mês anterior e de 24% sobre julho de 2024. O volume, proveniente de 169 poços, representou 79% de toda a produção nacional no período.
O campo de Tupi, na Bacia de Santos, manteve sua posição de maior produtor, com um registro de 799.400 bbl/d de petróleo e 40,5 milhões de m3/d de gás natural. A instalação com maior produção individual foi o FPSO Guanabara, no campo compartilhado de Mero, que produziu 184.383 bbl/d de petróleo e 12,09 milhões de m3/d de gás.
A dominância dos campos marítimos (offshore) foi evidente, respondendo por 98% do petróleo e 86% do gás natural produzidos. A Petrobras, operando sozinha ou em consórcio, foi responsável por 90% da produção total. A estatal segue investindo pesado para sustentar essa expansão, com planos de afretar 52 novas embarcações de apoio offshore (OSVs) até 2026 e a recente entrega do FPSO P-78, construído pelo estaleiro Seatrium em Singapura. A nova plataforma, com capacidade para produzir 180.000 barris de óleo e 7,2 milhões de m3 de gás por dia, já está a caminho do campo de Búzios, na Bacia de Santos.
Em Contraste, Safra de Laranja Tem o Pior Resultado em Décadas
Enquanto o setor de óleo e gás comemora, a citricultura enfrenta um período sombrio. De acordo com dados do Fundecitrus divulgados em abril de 2025, a safra de laranja 2024/25 no cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais foi a menor em mais de 30 anos. A colheita totalizou apenas 230,9 milhões de caixas de 40,8 kg, uma queda de 21,8% em relação às 307,2 milhões de caixas da safra 2023/24. O resultado reflete o impacto de cinco temporadas consecutivas de baixa produtividade, causadas por secas prolongadas e condições climáticas severas.
Impactos na Indústria de Suco de Laranja
A quebra na safra afetou diretamente a indústria de processamento. Segundo a CitrusBR, foram processadas 194,8 milhões de caixas de laranja, uma redução de 27,3% em comparação com as 267,9 milhões de caixas do ciclo anterior. Consequentemente, a produção total de suco de laranja foi estimada em 703.200 toneladas (equivalente a FCOJ a 66° Brix), volume 21,8% inferior às 898.700 toneladas produzidas em 2023/24.
Apesar do cenário negativo, houve uma melhora no rendimento industrial, que foi de 276,9 caixas por tonelada de FCOJ, um avanço de 7,1% em relação à safra passada. Os estoques globais de suco de laranja brasileiro em posse das empresas associadas à CitrusBR atingiram 146.300 toneladas em 30 de junho de 2025. Embora represente um aumento de 25,4% em relação ao ano anterior, o volume permanece entre os mais baixos do registro histórico, reforçando um cenário de forte restrição na oferta global do produto.