As ações da Cemig, companhia estatal de energia de Minas Gerais, sofreram quedas expressivas nos últimos dias, impulsionadas por especulações sobre uma possível federalização da empresa. Os papéis preferenciais (CMIG4) foram os mais impactados, com desvalorização de 21%, enquanto os ordinários (CMIG3) recuaram 7,6%.
Segundo relatório do Itaú BBA, antes da proposta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de federalizar estatais mineiras como forma de reduzir a dívida do estado, o diferencial entre as ações CMIG3 e CMIG4 se justificava pela expectativa de prêmio que os papéis ordinários poderiam receber em um cenário de privatização.
Contudo, no dia 22 de novembro, quando o governador Romeu Zema (partido Novo) sinalizou apoio à proposta de federalização, os mercados reagiram negativamente. CMIG4 caiu 10% no dia, e CMIG3 perdeu cerca de 5% de valor, levando a um prêmio de 41% das ações ordinárias em relação às preferenciais — patamar que subiu para 46% ao fim do pregão de quinta-feira. Em momentos anteriores, esse prêmio chegou a atingir 71% em maio e 61% em agosto.
Com a privatização praticamente descartada, o Itaú BBA avalia que o diferencial entre CMIG3 e CMIG4 agora reflete o valor implícito do processo de federalização. A projeção considera o direito de tag along de 80% assegurado por lei para os acionistas de CMIG3. Assim, considerando o fechamento da ação ordinária a R$ 16, o governo federal teria que desembolsar R$ 20 por papel para adquirir o controle acionário do estado.
O tag along garante que o acionista minoritário receba, no mínimo, 80% do valor pago ao controlador em caso de venda do controle da empresa. Por isso, a estrutura da operação depende da formalização dos termos da federalização, que ainda precisam ser validados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE), exigindo critérios sólidos de avaliação.
Nesse cenário, o Itaú BBA sugere operações com base na diferença de comportamento entre as ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN), apresentando duas estratégias para investidores:
1. Posição comprada em CMIG3 e vendida em CMIG4
Essa abordagem aposta na valorização de CMIG3 diante da concessão dos direitos de tag along. O banco acredita que há um risco de queda mais contido nesse papel, já que o estado não deve aceitar valores considerados abaixo do razoável. Por outro lado, o risco para CMIG4 aumentaria com a federalização, principalmente pela possível mudança de gestão e de diretrizes estratégicas da companhia.
2. Posição comprada em CMIG4 e vendida em CMIG3
Essa estratégia parte da suposição de que os direitos de tag along não serão aplicados a CMIG3. Além disso, indica que o preço atual da ação ordinária pode refletir um valor inflado e difícil de ser justificado como base para aquisição por parte do governo federal.
Diante das incertezas sobre os rumos da empresa, a recomendação do Itaú BBA é que investidores se posicionem com cautela e atentem-se às possíveis assimetrias de valor entre os papéis da Cemig, considerando os riscos e oportunidades embutidos em cada cenário.