Brasil: Expansão Solar Atinge Marcas Históricas, Mas Excedente de Energia Atrai Criptomoedas

O Brasil está a caminho de atingir a impressionante marca de 40 gigawatts (GW) de capacidade instalada de geração distribuída (GD) de energia solar fotovoltaica até 2025. Esse crescimento é impulsionado por uma corrida de consumidores e empresas para concluir seus projetos antes que novas regulamentações, que introduzem taxas pelo uso da rede, entrem em pleno vigor. Mesmo com os desafios que o setor enfrenta, a tendência de crescimento deve se manter firme.

Novas Regras e o Impacto Financeiro

A partir de 2025, a geração distribuída de energia solar no Brasil passará a ser taxada pelo uso da rede de distribuição e por outros serviços associados. A grande mudança, estabelecida pela Resolução Normativa nº 1.074/2023, é que essas taxas serão calculadas com base na potência instalada do sistema, e não mais sobre o consumo líquido de energia. A expectativa é que essa alteração aumente os custos para os consumidores e modifique o cenário financeiro para novos investimentos em energia solar.

Essa nova taxação será aplicada a projetos de geração distribuída de até 1,5 MW e a projetos de autoconsumo remoto de até 1 MW. No entanto, os sistemas que foram conectados à rede antes de janeiro de 2023 estão isentos dessas novas taxas até 2045. Essa isenção desencadeou uma verdadeira corrida por instalações, com inúmeros consumidores e empresas acelerando seus cronogramas para garantir o benefício e evitar os custos iminentes.

Projeções de Crescimento e Desafios Futuros

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) projeta que o país alcançará os 40 GW de capacidade em geração distribuída até 2025. Em 2022, o Brasil adicionou quase 10 GW de nova capacidade solar distribuída, chegando a um total de 21 GW no final do ano. Essa rápida expansão foi em grande parte motivada pelo prazo final para a isenção das novas taxas.

Apesar do otimismo, especialistas alertam que o novo modelo de taxação pode desacelerar o ritmo de crescimento após o prazo final, já que os consumidores podem hesitar mais antes de investir. O novo encargo pode reduzir a atratividade financeira dos sistemas solares, especialmente para consumidores menores, que podem ter mais dificuldade em arcar com os custos adicionais. Além disso, o setor ainda precisa lidar com incertezas regulatórias e possíveis mudanças nas políticas governamentais que possam impactar o crescimento futuro.

Um Efeito Inesperado: O Excedente de Energia Limpa

A notável expansão da energia solar, somada aos grandes investimentos em energia eólica, gerou uma consequência inesperada: o desenvolvimento da geração de energia superou o da infraestrutura de transmissão. Isso resultou em um problema crônico de excedente de energia limpa no país. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) e a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), esse excesso de oferta já custou às empresas de energia quase 1 bilhão de dólares nos últimos dois anos.

Criptomoedas: Uma Nova Solução para o Excedente

Esse cenário de sobra de energia renovável está atraindo um novo tipo de consumidor para o Brasil: as empresas de mineração de criptomoedas. Conforme informado pela agência de notícias Reuters, mineradoras estão negociando ativamente contratos com fornecedores de eletricidade brasileiros, como a Renova Energia, para aproveitar o excedente de energia renovável do país, muitas vezes em horários de baixo consumo, sem sobrecarregar a rede nos momentos de pico.

Enquanto em outros países os mineradores de criptoativos sobrecarregaram as redes elétricas, no Brasil, onde essa atividade ainda é incipiente, eles podem se tornar uma solução para o excesso de energia. Seguindo o exemplo da gigante Tether, que anunciou investimentos no país em julho, existem pelo menos seis negociações em andamento com empresas de pequeno e médio porte, além de um projeto de grande escala de até 400 megawatts. Empresas como Penguin, Enegix e Bitmain também estão explorando oportunidades no mercado brasileiro.

Preocupações e a Falta de Regulamentação

Apesar de se apresentar como uma solução vantajosa tanto para as geradoras de energia quanto para as mineradoras, a chegada dessa indústria traz novas preocupações. Questões como o alto consumo de água necessário para o resfriamento dos equipamentos e a ausência de uma regulamentação específica para a mineração de criptoativos no Brasil são pontos de atenção que precisarão ser endereçados à medida que o setor cresce no país.